Comissão apresenta proposta que prevê descriminalização do uso de drogas

Texto ainda não é nem um projeto de lei e não deve ser pautado em breve

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Brasília

Uma comissão de juristas entregou ao presidente da Câmara, Rodrigo Maia (DEM-RJ), uma proposta de alteração da Lei de Entorpecentes que descriminaliza o usuário de pequenas quantidades de drogas

O texto do anteprojeto separa o traficante do usuário e estabelece critérios objetivos com base em quantidades. 

Pelo texto, que não é ainda um projeto de lei, não seria crime o consumo de até dez doses das drogas nas quantidades estabelecidas. 

Por exemplo, a proposta coloca como valor de uma dose um grama de maconha. Assim, não seria crime portar até dez gramas da droga, sendo enquadrado como usuário e não como traficante. 

O mesmo acontece com outros entorpecentes, como a cocaína (dez doses de um grama), crack (dez doses de 0,5 grama) ou ecstasy (dez comprimidos). 

Para se tornar um projeto de lei, a proposta precisa ser assinada por um deputado.

Estavam na reunião com Maia os ministros do STJ (Superior Tribunal de Justiça) Marcelo Ribeiro Dantas e Rogério Schietti, além do desembargador Ney Bello e de Beto Vasconcelos, ex-secretário nacional de Justiça. 

Hoje, aquele que for enquadrado como usuário tem pena alternativa: advertência, prestação de serviços à comunidade ou medidas educativas.

Não há, na lei vigente, critérios objetivos de quantidade para o estabelecimento da diferença entre traficantes e usuários. De acordo com a lei de 2006, quem determina é o juiz. "Para determinar se a droga destinava-se a consumo pessoal, o juiz atenderá à natureza e à quantidade da substância apreendida, ao local e às condições em que se desenvolveu a ação, às circunstâncias sociais e pessoais, bem como à conduta e aos antecedentes do agente", diz o texto. 

A comissão foi criada pelo presidente da Câmara em junho de 2018. Não se sabe ainda, porém, a velocidade com a qual o texto andará na Casa. 

É pouco provável que o tema seja pautado, por exemplo, antes da votação da reforma da Previdência, considerada prioritária por Maia e outros líderes da Casa.

Outro ponto do texto é o aumento de pena para o tráfico de drogas internacional e do financiamento do tráfico de drogas, com penas de 8 a 20 anos e 10 a 20 anos, respectivamente.

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Comentários

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Marcos Benassi

9.fev.2019 às 8h00

Vou acabar parecendo o "maníaco da marofa", mas volto a esta matéria: muito interessante que poucos tenham se animado a discutir tema tão importante - não temos estatística de acesso ao texto (alô Editoria, Ombudsman e pessoal de Sistemas) mas talvez tenha até sido pouco lido, não sei. É ponto fundamental, basilar, da discussão sobre corrupção, pois só pode existir quando cria esta última. Importância análoga a discutir armas, cuja utilidade é tão-somente matar (carro tb mata, mas transporta).

Marcos Benassi

9.fev.2019 às 6h26

[cont.] É uma questão complexa, que merece discussão idem. Há a evidente contradição na descriminalização do consumo de algo que só se obtém de modo ilegal - mesmo contraditória, protege a parte mais fraca, a do usuário, é um primeiro passo objetivo. Mas o ciclo de produção/tráfico/aprisionamento se mantém, pressionando o sistema carcerário, sustentando "pccs da vida", consumindo recursos públicos e gerando fortunas àqueles que nunca são presos e se beneficiam da corrupção do estado e crime.

Marcos Benassi

9.fev.2019 às 6h15

Tirar o usuário do ciclo de violência/aprendizagem de outros crimes que ocorre no apenamento é muito bom - a determinação objetiva de quantidades ajuda claramente nisso. Mas entendo que duas questões são centrais: a invasão do Estado na esfera da liberdade individual, que melhora, na prática, com este relaxamento, e deve ser discutida. E o fato de que a ilicitude da produção e venda dão lucros extraordinários e, se mantida como tal, sustenta a corrupção e morte envolvidas nisso. [continua]